Texto de Wesley Barbosa.
Brasil.
Segunda-feira, 14 de maio de 2025.
01:00 da tarde.
“Eu fui salvo por um anjo de Deus.
Certa vez, na quebrada, saí para ir à biblioteca pegar um livro emprestado. Estava sem nenhum para ler. Como sempre, em vez de ir de ônibus, fui caminhando. Leva mais ou menos meia hora de casa até lá. Uma viatura passou por mim. Olhei naturalmente como quem não quer nada. Os caras estacionaram o carro mais à frente. Um deles saiu com o revólver apontado para mim. Eu estava de chinelos, apenas ia lá pegar um livro e devolver o que eu estava lendo.
“E aí, vagabundo”, disse um deles, “tá indo pra onde?"
“Encosta! Encosta!”, disse o outro. Encostei — “Mão na cabeça”, tornou o policial, logo foi me revistando. “Tem passagem?”, respondi que não. Ele disse: “Fuma maconha?” Balancei a cabeça negativamente. “O gato comeu sua língua, neguinho?” Olhei nos olhos dele.
“Tá gravando minha cara, é isso?” Fiquei em silêncio. Novamente ele retirou a arma da cintura: fez que ia atirar. Algumas pessoas passavam pela rua. Eu tinha que ir logo à biblioteca entregar o livro que estava lendo — a obra “Fome”, de Knut Husun.
Certa vez, na quebrada, saí para ir à biblioteca pegar um livro emprestado. Estava sem nenhum para ler. Como sempre, em vez de ir de ônibus, fui caminhando. Leva mais ou menos meia hora de casa até lá. Uma viatura passou por mim. Olhei naturalmente como quem não quer nada. Os caras estacionaram o carro mais à frente. Um deles saiu com o revólver apontado para mim. Eu estava de chinelos, apenas ia lá pegar um livro e devolver o que eu estava lendo.
“E aí, vagabundo”, disse um deles, “tá indo pra onde?"
“Encosta! Encosta!”, disse o outro. Encostei — “Mão na cabeça”, tornou o policial, logo foi me revistando. “Tem passagem?”, respondi que não. Ele disse: “Fuma maconha?” Balancei a cabeça negativamente. “O gato comeu sua língua, neguinho?” Olhei nos olhos dele.
“Tá gravando minha cara, é isso?” Fiquei em silêncio. Novamente ele retirou a arma da cintura: fez que ia atirar. Algumas pessoas passavam pela rua. Eu tinha que ir logo à biblioteca entregar o livro que estava lendo — a obra “Fome”, de Knut Husun.
Finalmente falei: “Estou indo à biblioteca pegar um livro emprestado e depois vou trabalhar.” O outro policial logo foi dizendo em tom de deboche: “E o crioulo sabe ler?” Seu parceiro gargalhou. Eu estava começando a ficar tenso... Tentando olhar para a numeração da placa do carro.
Aí um cara com uma bíblia embaixo do braço passou e disse: “Deixem o rapaz em paz, ele é lá da congregação. Não fez nada de errado.” Os dois policiais se entreolharam e por um momento (acho que por um momento) tiveram uma pequena crise político-religiosa.
“Vai lá, rapaz, e vê se não fica andando sem RG por aí.” Fui correndo para a biblioteca pensando quem era aquele senhor. Eu nunca o havia visto e já fazia muitos anos que não ia à igreja, aliás: em nenhuma delas.
Deve ter sido um anjo enviado por Deus para me livrar das garras do demônio, pensei rindo, um belo sinal.”
“Vai lá, rapaz, e vê se não fica andando sem RG por aí.” Fui correndo para a biblioteca pensando quem era aquele senhor. Eu nunca o havia visto e já fazia muitos anos que não ia à igreja, aliás: em nenhuma delas.
Deve ter sido um anjo enviado por Deus para me livrar das garras do demônio, pensei rindo, um belo sinal.”
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